Break bulk: tudo o que você precisa saber sobre a operação
- 12/03/2025
- 23 minutos
Break bulk é uma expressão em inglês que pode ser traduzida livremente como “carga fracionada”. No transporte marítimo, ela é utilizada para se referir às mercadorias embarcadas que são transportadas soltas ou fracionadas.
Hoje, você vai entender em profundidade o que é break bulk e como funcionam as operações que envolvem cargas fracionadas, quais são as vantagens e as desvantagens desse tipo de despache e quais são os tipos de navios e portos que realizam o break bulk, bem como descobrirá os cuidados indispensáveis para manter a integridade das cargas. Continue a leitura!
O que é o break bulk
O break bulk é um conceito que está intimamente ligado à armazenagem e à movimentação de cargas nos portos. A grande questão é que, apesar de ser amplamente utilizado pelos profissionais da área, é bem comum surgirem dúvidas a respeito do seu significado.
“Break bulk” é uma expressão que deriva de “breaking bulk”. O termo é definido como uma forma de transporte e de movimentação de cargas que não podem ser acondicionadas em containers ou em caixas de carga de tamanho convencional.
Portanto, trata-se de um tipo de transporte especial para mercadorias com dimensões ou necessidades diferenciadas. Entre os produtos que podem ser transportados por break bulk, temos, por exemplo, a celulose, o aço, os fertilizantes e o carvão.
Também chamado de “carga de projeto”, o fato é que o break bulk é um tipo de transporte diferenciado, destinado a volumes com dimensões especiais. Essa modalidade atende a mercadorias que não podem ser transportadas de forma convencional e que, por isso, demandam um planejamento e um manuseio especial.
Afinal, os produtos que têm portes diferenciados requerem um planejamento prévio, que leve em consideração as condições técnicas e físicas, viabilizando o seu manuseio adequado. Ou seja, o break bulk é um processo que envolve um estudo e um planejamento que priorizam a análise das melhores rotas — pois o transporte das cargas não pode ser feito em qualquer navio — e as práticas que garantem a integridade da mercadoria.
Independentemente de se tratar de um transporte de carga de mercadorias de alto valor ou não, quando se fala em logística internacional, a movimentação deve ser feita levando em conta o atendimento aos padrões de qualidade. Naturalmente, as mercadorias de menor porte são mais fáceis de serem movimentadas, enquanto as mercadorias de maior porte exigem uma atenção especial.
O break bulk, então, contempla exatamente os produtos que têm essas particularidades. A modalidade permite um acompanhamento próximo de toda a movimentação, minimizando qualquer contratempo que possa impactar negativamente o custo e a integridade dos produtos.
Diferença entre bulk e break bulk
Embora exista certa confusão, não podemos usar “bulk” e “break bulk” como sinônimos. Enquanto o break bulk representa uma forma de transporte e de movimentação de cargas que não podem ser acondicionadas em containers ou em caixas de carga de tamanho convencional, o bulk está relacionado a cargas a granel.
As vantagens e desvantagens da carga fracionada
Dependendo do tipo de mercadoria a ser transportado, o break bulk é uma necessidade. Se o produto não puder ser deslocado em um container, por exemplo, uma alternativa deverá ser utilizada. Mas, assim como outras modalidades, há vantagens e desvantagens no emprego desse mecanismo.
Uma das desvantagens é que a carga vai solta dentro do navio, implicando mais riscos no transporte. Por outro lado, quando você acondiciona as mercadorias em um container, há menos exposição e, consequentemente, menos risco de avariar os produtos. Contudo, apesar desse “perigo” aumentado, há inúmeras vantagens, e uma delas é justamente o custo — que pode, inclusive, compensar os eventuais entraves.
Nos momentos de desequilíbrio de transporte no mercado, a carga break bulk é mais barata, embora haja exposição à avaria. Temos o frete que é por tonelagem ou por metragem cúbica, e o exportador não tem custos prévios de armazenamento, ovação, novo armazenamento e frete em container, para citar alguns exemplos.
Inclusive, é importante destacar que essa situação de pré e pós-custo da containerização não é muito visível para o mercado como um todo. Isso porque cada exportador e cada importador conhecem os seus custos e realizam o planejamento e a gestão financeira de uma maneira.
No entanto, de uma forma geral, o frete será sempre mais barato na carga break bulk. Além disso, os custos estão atrelados ao equilíbrio entre oferta e demanda de navios que atuam no segmento de break bulk.
Ou seja, os valores dependem muito desse equilíbrio de oferta e demanda de navios nos segmentos. Como há um desequilíbrio no container, o frete na condição break bulk, hoje em dia, é muito mais barato, embora também esteja muito mais caro do que antes.
A propósito, também houve uma proporção de aumento de custo da carga break bulk de 100% a 200% do início da pandemia para cá. Entretanto, apesar de todos esses fatores, incluindo o risco aumentado de avarias, o aspecto econômico ainda é uma das maiores vantagens do break bulk, que é considerado uma opção mais viável economicamente se comparado com o transporte em container.
Ainda nesse contexto, além da questão econômica, entre os benefícios desse tipo de transporte, merecem destaque:
- a possibilidade de movimentar produtos com grandes dimensões;
- a acessibilidade na maioria dos portos do mundo;
- a redução do tempo no processo de expedição de mercadorias.
Os navios habilitados para o transporte de carga break bulk
Nem todos os navios estão aptos a realizar o transporte de carga break bulk. Além disso, o produto que será transportado também pode determinar o tipo de navio que precisa ser utilizado. No break bulk, são levados em consideração alguns conceitos náuticos relevantes, como:
- handysize — navio graneleiro com um porte bruto médio variando entre 15 mil e 35 mil toneladas. A classe de navios handysize se divide nas subcategorias supramax, handymax e handy;
- deadweight — medida utilizada para definir a diferença entre o peso total da carga suportada pela embarcação e o peso necessário para que ela funcione como o esperado (incluindo a carga paga e os demais itens transportados a bordo).
O aço, por exemplo, pode ser transportado em navios handysize, que são embarcações de até 35 mil toneladas. Os deadweights, por sua vez, são navios que também têm guindaste e conseguem carregar facilmente grandes lotes de aço em carga break bulk.
Até esses limites, podemos falar que os navios estão aptos ao carregamento de uma carga do tipo break bulk. A partir de 50 mil e 70 mil toneladas, os navios têm as suas especificações e são mais próprios para a carga a granel.
Ou seja, o tipo de navio que será utilizado para transportar as mercadorias depende essencialmente da sua capacidade e do tamanho da embarcação. Em linhas gerais, os navios chamados de break bulk são aqueles que têm entre 17 mil e 20 mil toneladas deadweight.
Atualmente, temos uma enorme quantidade desse tipo de navio com guindastes e super capacitados — os quais chamamos de heavy lifts, para cargas pesadas. Esses navios levantam até 3 mil toneladas por peça. Trata-se de um segmento bem específico do mercado de cargas break bulk.
Afinal, são grandes equipamentos industriais, normalmente, voltados para a indústria de energia. São navios que levantam módulos para plataformas de petróleo, variando entre mil, 2,5 mil e 2,7 mil toneladas.
Guindastes em navios break bulk
Para operar com a movimentação de cargas especiais, o navio pode ter o guindaste e uma capacidade de, pelo menos, 15 mil toneladas de transporte. Dessa forma, quando vai atracar em um porto para carregar ou descarregar as cargas break bulk, é preciso que ele tenha um guindaste para realizar a operação.
Caso a embarcação não o tenha, é necessário que o terminal disponha do equipamento disponível para viabilizar a carga ou a descarga. Os navios break bulk, normalmente, têm guindaste, embora haja também navios que levem cargas break bulk, mas sem guindaste.
Os terminais e a área de movimentação de carga
Além do tipo de navio que será utilizado no transporte de carga, deve ser levada em conta a estrutura do porto que vai receber essa mercadoria. Sob o ponto de vista dos locais de recepção de carga, a área de movimentação de carga e o calado do terminal são dois aspectos importantes.
O segundo é um termo técnico utilizado para se referir à profundidade em que cada navio está submerso na água. Logo, o calado representa a distância entre a quilha do navio e a lâmina da água.
Por exemplo, se o terminal tem um calado restrito, isso significa que alguns navios não poderão fazer escala naquele porto, já que não há uma estrutura para atender a algumas necessidades de descarga. Outro aspecto relevante diz respeito ao guindaste. Como mencionamos, é necessário verificar se o navio ou o terminal têm o guindaste que será utilizado para descarregar.
Mão de obra capacitada
Além das questões estruturais, a mão de obra capacitada é um ponto-chave em todo o processo de movimentação, carga e descarga de mercadorias. Em segmentos de heavy lifts — cargas especiais e super pesadas —, geralmente, o manuseio do navio é realizado pela tripulação, e não pelo estivador. Dessa forma, é de suma importância contar com uma tripulação que detenha conhecimento e habilidades básicas para operar.
Nos heavy lifts, o estivador só realiza o manuseio em terra e tem pouca participação no processo. A carga é colocada diretamente na carreta para ser transportada para outra área.
O manuseio de cargas especiais
O trâmite de manuseio de cargas é outro fator igualmente relevante quando falamos em break bulk. Aqui, é imperativo destacar que o tipo de produto vai determinar os processos de manuseio.
No caso do aço, por exemplo, os exportadores já têm terminais específicos em que o procedimento será realizado. Além disso, eles podem subcontratar um terminal em que existam pessoas qualificadas para o manuseio da carga. Então, a partir do momento em que o produto é içado para a embarcação, ele já se torna responsabilidade do armador e do comandante.
Dentro do porão do navio, há questões técnicas que são consideradas — o empilhamento, a distância, o peso, etc. A estivagem da carga é sempre supervisionada e direcionada pelo comando do navio, a fim de que se garanta a sua integridade durante o transporte.
O comandante também se preocupa com a adoção das práticas de segurança da carga no porão. O término do processo de estivagem só acontece depois da sua aprovação. Já o imediato do navio, geralmente, é o responsável por dar a aprovação de que aquela estivagem foi feita a contento do comando do navio.
Todas essas informações são relevantes para que você compreenda que o break bulk envolve uma série de particularidades e de cuidados que devem ser tomados para assegurar a integridade das mercadorias transportadas. É normal que, na descarga, os procedimentos sejam mais simples, pois os responsáveis só precisam desfazer as operações — que foram realizadas durante o carregamento — e içar a carga com atenção.
As cargas break bulk para longo curso
As cargas break bulk são mais utilizadas para o longo curso. Por isso, de uma forma geral, podemos dizer que elas são mais viáveis para maiores distâncias navegáveis em razão da relação custo-benefício.
Na costa brasileira, ainda há condições econômicas para colocar uma carga a granel, mas, via de regra, o processo é feito de trem. A logística estratégica é importante e impacta os custos e a eficiência das operações de transporte. Às vezes, a cabotagem pode ser mais interessante, mas, em outras situações, o break bulk é a opção mais viável.
A integridade das cargas
Nos últimos anos, houve um desenvolvimento significativo de empresas de serviços logísticos. Depois da pandemia, muitos setores se expandiram, e o transporte break bulk foi impactado diretamente.
As cargas break bulk se beneficiaram com esse “movimento”: hoje em dia, é mais fácil encontrar o break bulk em aviões cargueiros, por exemplo. Apesar disso, a modalidade pode, sim, voltar a perder espaço. Isso geralmente acontece em função de haver uma movimentação de busca de equilíbrio com relação ao transporte de containers.
Outro fator que chama atenção é o movimento de transição energética. Estamos vivenciando esse processo, e isso tem aumentado consideravelmente a demanda por transportes de carga break bulk.
O setor petrolífero sempre foi um demandador muito grande de carga break bulk pelos equipamentos, plataformas, refinarias, termelétricas, entre outros. Agora, porém, com a transição energética e os equipamentos eólicos (naceles, hubs, pás e estruturas metálicas), a demanda pelo transporte break bulk está ainda maior.
Inclusive, com esse aumento, o frete de cargas também aumenta. Somado a isso, tem crescido a procura em algumas regiões específicas, como o norte da Europa, que é um dos lugares que mais investem na transição energética em todo o mundo.
Na prática, os equipamentos, fabricados na Índia, na China e na Turquia, são levados para o norte da Europa em navios break bulk. Como são pesados, um alto nível de volume se faz necessário. Esse movimento crescente está afetando o segmento e, provavelmente, gerará reflexos sobre os preços e a criação de novas soluções.
O break bulk e o mercado de transportes marítimos
As expectativas do mercado como um todo apontam para o aumento na demanda de navios que atendam ao break bulk. O Brasil, por exemplo, ainda não tem um processo de transição do eólico offshore, mas tem uma reserva de mercado altíssima — provavelmente, uma das maiores do mundo.
Quando houver a regulamentação desses investimentos em eólica offshore, o nosso país também vai demandar muito esse tipo de navio. Isso porque a transição energética é um tema que está em alta e ainda vai afetar diretamente o mercado de transporte marítimo.
Em razão das especificidades das cargas, será necessário aumentar a frota de navios break bulk — principalmente os heavy lifters. Portanto, quando se fala em tendências e em expectativas de mercado, vale a pena ficar atento a esse movimento.
Como você viu, o break bulk é um tipo de transporte especial para mercadorias com dimensões e/ou necessidades diferenciadas. Hoje em dia, a modalidade já vem sendo amplamente utilizada por setores de mercado que atuam com determinados produtos, como celulose, aço, fertilizantes e carvão.
As expectativas são de crescimento na demanda desse tipo de transporte, principalmente em razão da transição energética que vem progredindo na Europa e que deve se estender por outros continentes. Inclusive, nos próximos dez ou 15 anos, o mercado de transporte marítimo deverá se adaptar a essas mudanças de necessidades e de demandas específicas por navios break bulk.
Portanto, se você é importador, exportador ou um profissional na área de logística, deve ficar atento aos principais termos e aos conceitos utilizados pelo setor marítimo. Somado a isso, é imperativo conhecer as tendências de mercado, já que esse domínio ajuda a manter o seu negócio preparado para lidar com eventuais mudanças mercadológicas.
Gostou de conhecer mais sobre o break bulk e a movimentação especial de cargas? Continue se aprofundando sobre o tema, lendo a respeito do processo de conferência de cargas.