Gestão de riscos climáticos: como preparar infraestruturas críticas para o futuro

As infraestruturas portuárias e logísticas do século XXI operam em um cenário de crescente incerteza climática. Chuvas intensas, estiagens prolongadas, elevação do nível do mar e eventos extremos antes considerados pontuais agora se manifestam com frequência, severidade e impacto sistêmico. Para portos, terminais e operadores logísticos, a pergunta deixou de ser “se” haverá um evento […]

  • 18/09/2025
  • 10 minutos

As infraestruturas portuárias e logísticas do século XXI operam em um cenário de crescente incerteza climática. Chuvas intensas, estiagens prolongadas, elevação do nível do mar e eventos extremos antes considerados pontuais agora se manifestam com frequência, severidade e impacto sistêmico. Para portos, terminais e operadores logísticos, a pergunta deixou de ser “se” haverá um evento climático extremo, e passou a ser “quando”, “com qual intensidade” e “como isso afetará as operações”.

Neste novo contexto, a gestão de riscos climáticos deixa de ser um exercício técnico limitado a áreas de meio ambiente ou compliance e assume status de estratégia central de resiliência empresarial e segurança operacional. Empresas que atuam com ativos críticos, como a Wilson Sons, vêm incorporando modelagens climáticas, protocolos preventivos e governança baseada em cenários para proteger suas operações, seus clientes e os ecossistemas ao redor.

Neste artigo, você poderá entender melhor o papel da gestão climática na preparação de infraestruturas críticas, com foco em operações portuárias e marítimas. Com base na prática da Wilson Sons e em tendências internacionais, analisamos como prevenir riscos, responder com inteligência e transformar
vulnerabilidade em vantagem competitiva.

Boa leitura!

O novo normal: riscos climáticos como fator operacional permanente

As mudanças no clima já não são projeções futuras, elas são uma realidade. No Brasil, 2023 foi o ano mais quente já registrado, com recordes de temperatura em regiões portuárias como o Sul e o Nordeste. O impacto direto nas operações logísticas foi evidente:

  • Calor extremo limitando turnos operacionais em áreas abertas;
  • Enchentes e erosões afetando acessos terrestres a terminais;
  • Ventos e chuvas intensas restringindo a atracação de navios;
  • Secas prolongadas comprometendo calado em hidrovias e canais.

Esses eventos, quando não antecipados ou mal gerenciados, causam interrupções de operação, perdas econômicas, danos a equipamentos e impactos sociais no entorno. Para companhias que operam 24/7, como no setor portuário, a previsibilidade climática se tornou um insumo tão valioso quanto energia, mão de obra ou tempo de atracação.

“O clima é o novo competidor invisível da cadeia logística global. Se você não o incorporar a sua estratégia, ele vai incorporar a sua operação e terá impacto direto no desempenho.”

João David
Gerente de sustentabilidade

Tradicionalmente, empresas lidavam com eventos extremos por meio de planos de contingência. Mas esse modelo reativo já não é suficiente. Com a intensificação e multiplicação dos riscos físicos, a abordagem precisa ser prospectiva, baseada em cenários e ancorada em dados científicos.

A Wilson Sons é um exemplo de como essa mudança de paradigma tem sido colocada em prática no Brasil. A companhia passou a incorporar os riscos climáticos as suas análises estratégicas, utilizando modelagens do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) e as diretrizes da TCFD (Task Force on Climate-related Financial Disclosures).

Essas ferramentas permitem avaliar:

  • A exposição física dos ativos a diferentes eventos climáticos;
  • A sensibilidade das operações às variações de temperatura, vento e precipitação;
  • Os riscos de transição regulatória e econômica associados à mudança climática;
  • A capacidade adaptativa de cada terminal ou unidade.

A partir dessa análise, a empresa define prioridades de investimento, revisa rotinas operacionais e estabelece metas de resiliência baseadas em evidências. Ou seja, o clima deixa de ser apenas uma variável de risco e passa a orientar decisões de longo prazo.

Protocolos em ação: medidas concretas para proteger ativos e pessoas

A gestão de riscos climáticos exige ação em múltiplas frentes. Não se trata apenas de obras ou sistemas de alerta, mas de uma cultura de prevenção disseminada em toda a organização. A Wilson Sons adotou uma série de medidas práticas em seus terminais e rebocadores:

Monitoramento meteorológico avançado

Os terminais operam com sistemas de monitoramento climático que cruzam dados em tempo real com previsões detalhadas. Isso permite antecipar riscos, reorganizar janelas de operação e informar clientes sobre eventuais ajustes logísticos.

Protocolos operacionais para calor extremo

Com a elevação das temperaturas médias, a empresa definiu faixas operacionais para proteger a saúde dos trabalhadores, ajustar turnos, intensificar a hidratação e rever uso de EPIs para garantir segurança e produtividade.

Infraestrutura adaptativa

Nos terminais de contêineres, foram implementadas soluções de engenharia como:

  • Sistemas de drenagem de alta capacidade;
  • Reforço em pavimentações em áreas sujeitas a erosão;
  • Uso de materiais com melhor performance térmica;
  • Revisão do paisagismo com espécies mais resistentes à salinidade e insolação.

Planos de contingência integrados

As unidades contam com planos que envolvem desde evacuação preventiva até contenção de emergências ambientais, articulados com defesa civil, autoridades portuárias e órgãos reguladores.

Essas ações garantem que, mesmo sob estresse climático, a operação mantenha seus níveis mínimos de serviço com segurança, responsabilidade e comunicação transparente.

A interseção entre clima, ESG e governança

A gestão de riscos climáticos está diretamente ligada à governança ESG. Empresas que mapeiam, reportam e mitigam seus riscos ambientais demonstram maturidade, aumentam sua reputação e atraem investidores alinhados com os princípios da sustentabilidade.

A Wilson Sons estrutura sua atuação com base nos pilares da TCFD e integra suas análises de riscos climáticos ao seu Comitê de Sustentabilidade e Riscos. Isso permite que as decisões técnicas estejam conectadas à estratégia corporativa, com alinhamento claro entre o operacional e o institucional.

Além disso, a companhia divulga anualmente suas emissões, metas de redução e medidas de adaptação, reforçando seu compromisso com a transparência e com as melhores práticas internacionais.

A capacidade de manter operações seguras e eficazes em um cenário climático instável se torna, cada vez mais, um diferencial competitivo. Para embarcadores e armadores, a previsibilidade é um ativo essencial.

E os portos que conseguem oferecer essa confiabilidade mesmo em condições adversas são naturalmente preferidos.

Esse valor se estende a toda a cadeia:

  • Transportadoras planejam melhor seus fluxos;
  • Exportadores evitam perdas e sanções por atrasos;
  • Autoridades fiscais e alfandegárias operam com mais estabilidade;
  • As comunidades no entorno sofrem menos com impactos colaterais.

Ou seja, a gestão climática não é apenas uma ferramenta de mitigação — mas um mecanismo de geração de valor compartilhado.

“Trabalhamos para manter nossas operações em alto nível de segurança e eficiência mesmo diante dos efeitos da mudança do clima. A antecipação de riscos climáticos se tornou parte da nossa estratégia, porque o futuro da logística depende da capacidade de adaptação.”

Arnaldo Calbucci
CEO da Wilson Sons

Riscos físicos e de transição: o que avaliar

A estrutura de análise climática da Wilson Sons considera dois tipos de riscos:

Riscos físicos:

  • Agudos: tempestades, enchentes, ondas de calor, ventanias;
  • Crônicos: aumento médio de temperatura, elevação do nível do mar, mudanças em padrões sazonais.

Esses riscos afetam a integridade de ativos físicos e a continuidade das operações.

Riscos de transição:

  • Mudanças regulatórias (por exemplo, restrições de emissão);
  • Novos padrões de mercado (clientes exigindo descarbonização);
  • Variações tecnológicas (eletrificação de frota, uso de hidrogênio);
  • Expectativas sociais e reputacionais.

Ambos os grupos impactam não só o desempenho, mas também o posicionamento de mercado e o acesso a financiamento, especialmente em mercados globais sensíveis à agenda climática.

Oportunidades de adaptação e inovação

A adaptação climática também pode ser uma fonte de inovação e ganho operacional. Entre os exemplos:

  • Uso de pavimentos mais claros reduz temperatura em pátios;
  • Reflorestamento em áreas de apoio melhora o microclima local;
  • Gestão de água de chuva reduz uso de água potável;
  • Monitoramento remoto reduz deslocamentos e emissões.

Além disso, empresas que lideram a gestão climática tendem a atrair parcerias com universidades, startups e instituições multilaterais interessadas em desenvolver soluções aplicadas. Dessa forma, a gestão de riscos climáticos se consolida como um eixo estratégico da competitividade e da perenidade das infraestruturas críticas.