Como tecnologia, dados e parcerias estão moldando o futuro da logística marítima
O setor logístico marítimo está no centro de uma transformação sem precedentes. À medida que cresce a pressão global por descarbonização, eficiência energética e responsabilidade socioambiental, a inovação em sustentabilidade emerge como um diferencial estratégico para armadores, operadores portuários e empresas de apoio marítimo. Nesse contexto, a digitalização de frotas, os sistemas de inteligência embarcada, […]
- 07/08/2025
- 11 minutos

O setor logístico marítimo está no centro de uma transformação sem precedentes. À medida que cresce a pressão global por descarbonização, eficiência energética e responsabilidade socioambiental, a inovação em sustentabilidade emerge como um diferencial estratégico para armadores, operadores portuários e empresas de apoio marítimo.
Nesse contexto, a digitalização de frotas, os sistemas de inteligência embarcada, o uso de big data na gestão ambiental, a eletrificação de ativos e a colaboração com startups passaram a integrar a agenda ESG das empresas. A lógica da sustentabilidade evoluiu de mitigação de danos para criação de valor compartilhado, e quem entender essa dinâmica com profundidade estará um passo à frente.
Neste artigo, exploramos como a inovação está remodelando as bases da sustentabilidade na logística marítima e você irá perceber que não se trata de apenas reduzir emissões, mas também de transformar modelos operacionais, fortalecer parcerias e alinhar tecnologia com impacto positivo real na vida das pessoas.
A transição climática como catalisadora da inovação
O setor marítimo responde por aproximadamente 3% das emissões globais de gases de efeito estufa, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). Apesar de ser o modal mais eficiente em termos de emissão por tonelada transportada, o crescimento do comércio internacional e a complexidade logística dos portos aumentam a responsabilidade do setor com os compromissos de neutralidade climática até 2050.
A IMO (Organização Marítima Internacional) já definiu metas ambiciosas para a redução das emissões e criou pressões regulatórias que afetam diretamente os armadores e operadores portuários. Entre as iniciativas estão o CII (Carbon Intensity Indicator), o EEXI (Energy Efficiency Existing Ship Index) e a proposta de incluir o transporte marítimo no mercado de carbono da União Europeia.
Essas pressões regulatórias, aliadas às exigências de investidores ESG e clientes comprometidos com cadeias sustentáveis, fazem da inovação uma questão de sobrevivência estratégica.
Um dos pilares da transformação sustentável no setor é a digitalização das operações. O uso de dados em tempo real, algoritmos de eficiência e plataformas conectadas permite reduzir desperdícios, antecipar falhas e eliminar deslocamentos desnecessários com impacto direto na pegada ambiental das operações.
Na Wilson Sons, o sistema Artemis a Bordo, embarcado em rebocadores, coleta e analisa dados operacionais como consumo de combustível, potência aplicada, condições ambientais e desempenho por tipo de manobra. Com base nesses dados, os comandantes recebem orientações em tempo real para realizar operações mais eficientes e menos poluentes.
“O Artemis foi projetado visando a aprimorar a segurança da navegação da frota de embarcações, em especial dos rebocadores da Wilson Sons, viabilizando a economia de combustível e a mitigação de riscos de acidentes, trazendo ganhos não somente para a operação, mas também em sustentabilidade.”
André Porto
Gerente de inovação & CVC
Essa digitalização embarcada também permite planejar manutenções com mais precisão, reduzindo paradas inesperadas e aumentando a vida útil dos equipamentos. Em 2024, o sistema contribuiu para a redução de 4% nas emissões absolutas da frota, mesmo com aumento na demanda de serviços — um exemplo concreto de como a inovação se traduz em sustentabilidade mensurável.
Além disso, terminais como o Tecon Rio Grande e o Tecon Salvador já operam com portões automatizados, sistemas de OCR (reconhecimento óptico de caracteres), painéis inteligentes de gestão de fluxo e monitoramento em tempo real da operação. Essas soluções reduzem o tempo de espera, melhoram a previsibilidade e diminuem as emissões associadas a filas e movimentações improdutivas.
A redução das emissões diretas passa inevitavelmente pela substituição de motores a combustão por alternativas mais limpas. Nos terminais da Wilson Sons, há um plano estruturado de eletrificação de veículos de apoio, tratores portuários e equipamentos auxiliares. Em Salvador, testes com tratores elétricos foram realizados com sucesso, indicando viabilidade técnica e econômica para expansão da frota.
A eletrificação também se estende às áreas administrativas, com a substituição de veículos corporativos por modelos híbridos e a instalação de painéis solares para suprimento parcial de energia limpa em áreas de apoio. Em 2024, mais de 50% da energia elétrica consumida pela companhia veio de fontes renováveis certificadas, como parte do compromisso público com a agenda de baixo carbono.
Do ponto de vista marítimo, o setor já discute o uso de combustíveis alternativos como metanol verde, hidrogênio, amônia e GNL (gás natural liquefeito). Embora esses combustíveis ainda não sejam amplamente disponíveis no Brasil, iniciativas internacionais estão criando corredores verdes e frotas-piloto para validar sua aplicabilidade em larga escala. A inovação nesse campo passa por parcerias com fornecedores, adaptação de motores e reconfiguração da cadeia de suprimentos, áreas nas quais a Wilson Sons já iniciou estudos de viabilidade, como os testes de diesel verde (HVO), aprovados pela Agência Brasileira do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), realizados em parceria com a Efen, Vast e Porto do Açu.
“O HVO é uma solução promissora, pois é um combustível de substituição que não exige nenhuma adaptação em nossos equipamentos, o que representa uma opção importante para a indústria de apoio portuário”
Marcio Castro
Diretor executivo de Rebocadores da Wilson Sons
Parcerias com startups e hubs de inovação aberta
A velocidade da inovação não pode ser suportada apenas por departamentos internos. Por isso, empresas líderes estão criando ecossistemas de inovação aberta, conectando-se a startups, universidades, hubs tecnológicos e aceleradoras especializadas.
A Wilson Sons é cofundadora do Cubo Maritime & Port, hub de inovação localizado no Cubo Itaú, em São Paulo. A iniciativa conecta empresas do setor marítimo-portuário a startups com soluções em automação, energia limpa, análise de dados, logística preditiva, monitoramento ambiental, eficiência de frota, entre outros.
Em 2024, dezenas de startups participaram de desafios de inovação promovidos pela companhia, com destaque para temas como:
- Automação e rastreamento de processos operacionais;
- Eficiência energética embarcada;
- Monitoramento da biodiversidade em áreas portuárias;
- Uso de sensores para contenção de vazamentos;
- Digitalização da jornada de segurança do trabalho.
Essas soluções são testadas em ambientes reais e, quando comprovada a viabilidade, passam a compor o portfólio de inovação da companhia. A lógica é clara: escalar soluções que gerem impacto ambiental positivo e valor operacional, criando um ciclo virtuoso de sustentabilidade e performance.
Afinal, a gestão sustentável requer métricas e a inovação depende da capacidade de gerar, processar e interpretar dados com velocidade e confiabilidade. A Wilson Sons utiliza ferramentas de business intelligence para consolidar indicadores ESG, acompanhar metas de descarbonização, avaliar desempenho energético por terminal e comunicar resultados com transparência.
A automação e a inteligência artificial está sendo aplicada para prever falhas, otimizar rotas, calcular emissões por tipo de manobra e reduzir movimentações desnecessárias. No campo da manutenção, algoritmos de machine learning já são utilizados para prever desgaste de peças, programar trocas com menor impacto e reduzir o uso de materiais.
Além disso, os dados operacionais são integrados ao sistema de reporte do Relatório de Sustentabilidade, publicado anualmente com base nas diretrizes do GRI e nos compromissos do Pacto Global. Isso permite aos stakeholders, de reguladores a investidores, acompanhar o progresso da empresa com base em evidências e comparações consistentes.
Inovação social e impacto territorial positivo
A inovação não se limita ao operacional. A inovação também precisa incluir o social. A Wilson Sons tem fortalecido seu compromisso com inclusão produtiva, diversidade e formação de talentos com ações voltadas para a empregabilidade nas comunidades do entorno.
Programas como o Be Digital, parcerias com instituições técnicas, bolsas de estudo para formação em logística e cursos de capacitação para mulheres em áreas operacionais são exemplos de inovação aplicada à redução das desigualdades. Em Salvador e Rio Grande, a companhia atua com projetos voltados à educação ambiental, desenvolvimento comunitário e aproximação com escolas locais. Já no Rio de Janeiro, a educação tecnológica desponta.
Essa abordagem integrada permite ampliar a legitimidade das operações junto aos territórios e vem conquistando prêmios: a Wilson Sons foi reconhecida pela Controladoria-Geral da União com o selo Pró-Ética e vencedora do Prêmio Transparência ANEFAC, reforçando a coerência entre discurso e prática em sua governança ESG.
“Somos pioneiros na adoção de novas tecnologias no setor, ao mesmo tempo que estendemos esse conhecimento para as comunidades em que atuamos. É isso que nos permite ter uma posição de liderança em inovação no setor”
Simone Prado
Gerente de transformação digital
A inovação, quando orientada por valores ambientais e sociais, torna-se uma força de transformação profunda no setor logístico. Mais do que buscar eficiência operacional ou ganhos imediatos, empresas como a Wilson Sons demonstram que é possível construir um futuro mais limpo, inteligente e responsável.
Sustentabilidade e inovação não são eixos separados: são, cada vez mais, partes do mesmo sistema. E nesse sistema, a liderança será de quem tiver coragem de antecipar o futuro e colocá-lo para funcionar no presente.