Como a logística portuária responde a crises climáticas e geopolíticas

A logística portuária é, historicamente, um pilar estratégico do comércio global. Conectando economias, sustentando cadeias de suprimento e garantindo o fluxo contínuo de mercadorias, ela opera sob contextos cada vez mais voláteis. Em um cenário de crise climática acelerada e instabilidades operacionais pontuais em algumas rotas internacionais, o papel dos portos, terminais e operadores logísticos […]

  • 23/07/2025
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A logística portuária é, historicamente, um pilar estratégico do comércio global. Conectando economias, sustentando cadeias de suprimento e garantindo o fluxo contínuo de mercadorias, ela opera sob contextos cada vez mais voláteis.

Em um cenário de crise climática acelerada e instabilidades operacionais pontuais em algumas rotas internacionais, o papel dos portos, terminais e operadores logísticos ganha ainda mais relevância.

Neste artigo, vamos analisar como o setor vem se preparando para responder a esses desafios, transformando vulnerabilidades em estratégias de resiliência, explorando o cenário atual, as práticas reais adotadas pela Wilson Sons e as tendências de mercado para uma logística mais preparada, sustentável e estratégica.

O cenário atual

Eventos climáticos extremos, como secas prolongadas e chuvas intensas, vêm se tornando cada vez mais comuns, afetando diretamente a operação de portos e canais logísticos. O setor enfrenta ainda os reflexos de flutuações na demanda global, mudanças nos padrões de consumo e a necessidade de atender aos novos compromissos de sustentabilidade.

Ao mesmo tempo, transformações tecnológicas, pressões por descarbonização e uma demanda crescente por transparência e previsibilidade estão exigindo uma nova lógica de gestão operacional. Neste ambiente desafiador, as companhias que conseguem antecipar riscos, adaptar estruturas e responder com agilidade passam a se destacar.

A intensificação dos eventos climáticos extremos exige um novo tipo de planejamento logístico. Ondas de calor, tempestades fora de época e estiagens prolongadas afetam diretamente o calado, a integridade de estruturas e a previsibilidade das operações em portos. Modelos preditivos tradicionais não são mais suficientes para capturar as múltiplas variáveis que impactam a operação.

Nesse contexto, a gestão de riscos climáticos passa a ser um vetor central de resiliência. A Wilson Sons, por exemplo, já avalia seus riscos físicos e de transição com base nos cenários do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e nas diretrizes da Task Force on Climate-related Financial Disclosures (TCFD), analisando os efeitos potenciais em seus ativos operacionais e define planos de ação com base em evidências científicas e simulações avançadas.

Essas medidas incluem adaptação de infraestrutura, ajustes operacionais em janelas climáticas, reorganização de turnos e adoção de tecnologias para mitigar impactos diretos, como sistemas de refrigeração mais eficientes, proteção de equipamentos em áreas abertas e automação de contingência.

“A inteligência climática se consolida como um diferencial competitivo. Portos capazes de manter operações mesmo em cenários de estresse climático agregam valor logístico e confiança comercial aos fluxos de comércio internacional”

João David
Gerente de sustentabilidade Wilson Sons

Eficiência energética e descarbonização: da estratégia à operação

A urgência climática não impacta apenas a gestão de riscos, ela exige uma mudança profunda na forma como a energia é gerida nas operações portuárias. A eficiência energética tornou-se uma exigência técnica e reputacional, tanto do ponto de vista regulatório quanto de mercado. Em um setor intensivo em consumo energético, reduzir emissões é reduzir custos e aumentar a competitividade.

A Wilson Sons tem implementado uma série de medidas concretas para reduzir sua pegada de carbono, em busca de uma operação carbono zero. Em 2024, mais de 50% do consumo de eletricidade de suas operações foi suprido por fontes renováveis com certificação de origem (I-REC). Além disso, os terminais de contêineres da companhia adotaram práticas como:

  • substituição de refletores de vapor metálico por iluminação LED;
  • testes com tratores portuários elétricos;
  • instalação de painéis solares para geração própria;
  • aquisição de rebocadores com sistema de propulsão mais eficiente, como os twin fin.

No Tecon Rio Grande, por exemplo, as pistas foram recapeadas com materiais de alta refletância térmica, reduzindo a necessidade de arrefecimento dos equipamentos e o consumo energético durante o verão.

Além da economia de energia, essas ações reforçam o compromisso com o Acordo de Paris e com os princípios de logística sustentável que vêm sendo exigidos por grandes embarcadores globais. A redução da intensidade de emissões (tCO2 por TEU movimentado) é monitorada sistematicamente, permitindo ajustes operacionais com base em dados reais.

“Descarbonizar o setor marítimo não é mais uma visão de longo prazo, é uma agenda do agora, e quem lidera esse movimento assume uma posição de destaque no comércio internacional.”

Paulo Bertinetti
Diretor-presidente Tecon Rio Grande da Wilson Sons

Digitalização: visibilidade e previsibilidade em tempo real

A digitalização é outra poderosa aliada da resiliência logística. Ao incorporar sensores, algoritmos e conectividade inteligente às operações, portos e armadores passam a operar com dados em tempo real, gerando insights para decisões mais rápidas e assertivas.

A transformação digital da Wilson Sons passa pela automação de gates com OCR (Optical Character Recognition), uso de sistemas de gestão portuária (TOS) integrados a ERPs, rastreamento via WS Connect e implementação de soluções de inteligência artificial generativa para manutenção preditiva.

No Centro Logístico Santo André, por exemplo, o monitoramento de movimentações é feito com apoio de câmeras inteligentes e integração com o sistema alfandegado da Receita Federal. Isso permite rastreabilidade total, menor tempo de resposta a desvios e otimização da segurança patrimonial.

“A digitalização é o caminho mais eficaz para transformar a complexidade em inteligência logística. Quanto mais conectada a operação, mais resiliente ela se torna.”

Thais Sangean
Gerente executiva do Centro Logístico Santo André da Wilson Sons

Resiliência como estratégia de negócio

Como você pode perceber, resiliência, no contexto da logística portuária, não se trata apenas de resistir a crises, mas de antecipar riscos, agir com agilidade e transformar aprendizado em estratégia. O mundo não caminha para um ambiente mais previsível, ao contrário, os ciclos de incerteza tendem a se intensificar nos próximos anos, seja por fatores climáticos, regulatórios ou tecnológicos.

Operadores que investem em digitalização, eficiência energética e gestão climática posicionam-se melhor para responder a esses ciclos. A experiência de mais de 187 anos da Wilson Sons demonstra que é possível alinhar desempenho operacional, sustentabilidade e inovação para construir uma cadeia logística mais robusta e integrada ao futuro.

A capacidade de manter operações seguras, limpas e eficientes mesmo em contextos adversos será, cada vez mais, o diferencial competitivo de quem atua na interseção entre infraestrutura crítica e economia global. A resiliência, portanto, não é mais uma competência acessória: é o próprio núcleo da estratégia logística do século XXI.